quarta-feira, 9 de junho de 2010

DIREITO DE AMAR

Na segunda semana de Psico-sex-cine, contamos com mais publico e com ótimas participações e perguntas. estamos aquecendo, vamos continuar assim, e logo teremos casa lotada de novo! abraços a todos que vieram e aos que não puderam vir ainda um novo convite: SEMANA QUE VEM TEM MAIS!!!!!

1- Mais uma vez temos um suicida como protagonista. George é homossexual, professor de literatura inglesa, e que perdeu Jim, o amor de sua vida por 16 anos, num acidente de carro. Desde esse acidente, sua vida perde completamente o sentido e ele passa a viver de maneira mecânica, sem motivação. A certa altura, ele resolve se matar, compra munição para uma antiga pistola, e numa certa noite arruma todos os documentos, seguros, dinheiro, tudo numa mesa, com bilhetes e até mesmo a roupa com que quer ser enterrado, com instruções até mesmo para o nó da gravata. Quando ele vai, de fato, colocar em prática sua vontade, ele vai encontrando várias dificuldades para fazê-lo, desde a forma com que se posiciona na cama, a posição do travesseiro, ou dentro da banheira com a cortina fechada, a posição em que segura a arma, enfim, tudo é uma dificuldade. Falamos muito na discussão sobre os motivos que o levaram a querer cometer suicídio, e levantamos a questão da perda do referencial quando o namorado morre e como isso esvaziou sua vida a ponto dele querer acabar com ela.

As pessoas tem uma visão muito limitada e fantasiosa das relações amorosas. Amar é lindo, é uma fonte de nutrição subjetiva, mas como tudo na vida em excesso, não presta. A idéia é que as pessoas possam construir suas vidas em torno de vários tipos de relações importantes: com a família de origem, com os amigos, com o trabalho, com o parceiro amoroso e consigo mesma. Quanto mais o sentimento estiver nutrido por estas fontes, mais difícil fica desse esvaziamento que foi cogitado na pergunta acontecer. No filme, como em muitos casos na vida real o que acontece é que as pessoas se esquecem de ter uma vida própria e vivem em função do outro, em nome desse amor perfeito que junta almas gêmeas e blá, blá blá. O que acontece com isso é que quando esse objeto de amor se perde seja por morte, ou por separação, a pessoa se sente oca, sem função, sem sentido para viver, e o pior, sem ter em que se segurar para ter apoio no período de luto e poder se reerguer. Nesse momento surgem os pensamentos suicidas, as tentativas e as vezes o sucesso em fugir da vida e do sentimento de vazio.

Vamos amar intensamente, ferozmente, mas vamos nos amar antes de poder dizer ao mundo que somos capazes de amar os outros.

2- O filme se passa na Los Angeles dos anos 60, e vemos como é complicado para o protagonista, como gay, lidar com certas situações aparentemente simples, do cotidiano. Seus vizinhos da casa ao lado, são uma família aparentemente perfeita, um jovem e lindo casal com dois filhos pequenos, jardim impecável, todos muito bem vestidos etc. Por inúmeras vezes, George se vê observando muito a rotina dessa família, com muito interesse. E a família, por sua vez, tb se mostra muito curiosa a respeito da vida dele, por ser solteiro numa casa grande daquela, e a filha do casal deixa escapar para ele que o pai fica dizendo que ele é um "afeminado de mocassins". Contudo, a mãe dela o convida para uma noite de drinks na casa dela, o que ele prontamente recusa. Falamos sobre essa coisa da curiosidade que muitas pessoas tem sobre a vida dos gays, e que quando tem oportunidade nos bombardeiam de perguntas. Levantamos a questão de que muitas pessoas ditas "normais" apenas aceitam a proximidade de gays quando não os veem como seres sexualizados. Isso procede?

Eu discordo. Os hetero normalmente não gostam dos gays por simples ignorância, por uma socialização equivocada, cheia de preconceitos e estigmas, mas quando a maturidade e o juízo critico permitem uma aproximação, eles( os hetero) terminam tendo muitas curiosidades sobre o mundo gay e os mitos que eles sempre ouviram: fazer sexo anal dói? Quem come é a o homem e quem dá é a mulher do casal? Como é que você se descobriu gay? Já teve relações com pessoas do sexo oposto?

Então, discordo que as aproximações sejam feitas quando o gay é visto como assexuado. A sexualidade sempre esta lá, nos ditos, nos não ditos, nas reações corpóreas, na distancia nos contatos, na permissividade de deixar os filhos mais novos conversarem ou terem contato com um gay, etc. até mesmo porque, não é fácil não ver a letra escarlate cor de rosa chiclete brilhando na aura de um gay e simplesmente fingir que aquela pessoa na sua frente é assexuado e não considerar a expressão da sexualidade existente. Quando o preconceito existe,ele se apresenta de alguma forma!

3- A personagem Charlotte, interpretada por Juliane Moore, é uma velha amiga de George, desde a juventude dos dois. Enquanto ele mantinha seu relacionamento com Jim por 16 anos, ela teve um casamento de 9 anos em que o marido dela a abandonou no final das contas. Charlotte sempre foi apaixonada por George, e numa certa noite, na exata noite em que George tenta cumprir o ritual do suicídio, ela o chama para jantar, com claras insinuações de que queria que a noite fosse mais longe do que um encontro de velhos amigos. Num momento da noite, ela transparece que sempre achou que Jim era apenas um substituto para um amor convencional, que ele ainda não havia encontrado. Conversamos muito sobre esse fato de algumas mulheres que adoram ficar com gays, que se apaixonam por caras gays com uma certa recorrência. É negação, auto-afirmação, preconceito?

Não sei se vocês já receberam um e-mail falando dos tipos de homens mais desejados pelas mulheres. Nesse e-mail fazem uma brincadeira de que o homem ideal, por ser sensível, carinhoso, cuidadoso, bonito, sexy, com corpo bonito, saudável com certeza é gay!

Acredito que grande parte do desejo que as mulheres sentem por alguns gays é justamente um desejo por relações mais íntimas em termos de sentimento, de diálogo, de abertura. O homem- macho da espécie humana foi ensinado a deixar estas características de lado e desenvolverem outras habilidades.

Claro que para outras, menos esclarecidas se torna uma questão quase darwiniana de salvar a espécie da extinção, ou seja, é um imperativo que os gays sejam convertidos em hetero!! Outras ainda querem um troféu, é a auto-afirmação mesmo, é chegar para as amigas e dizer: ele disse que não pega mulher, mas mulher de verdade ele pega: EU!

Enfim, muitos são os fatores que levam uma mulher a se prestar a esse papel. Infelizmente e o pior dos papeis desempenhados por elas nessas horas é efetivamente não perceber que o sujeito é gay e se apaixonarem por ele. Ai a dor é grande, o sentimento de rejeição também é muito forte.

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