1-O filme é focado na relação de amizade entre dois amigos de infância. Um deles vai visitá-lo depois de muito tempo sem se verem, e descobre que o amigo, além de estar envolvido num assassinato de um rico e poderoso homossexual, faz sexo oral em homens ricos, mas não se considera gay, já que faz isso apenas para ganhar dinheiro. Discutimos a questão dos homens que se prostituem, sendo que alguns deles realmente não se consideram gays. Onde mora a definição do que é ser gay neste caso? Um homem que não se interessa por outros homens na vida socialmente aberta, não vê nada de errado ao se prostituir com homens. Isso pode acontecer, essa dissociação das duas coisas?
Em se tratando de seres humanos tudo pode acontecer. Nós temos uma pluralidade de possibilidades que espanta qualquer um. Vamos pensar numa coisa:
Vocês se imaginariam no inicio da adolescência sendo colocados num acampamento de férias só com outros meninos, onde a regra básica do acampamento seria se descubram sexualmente! Detalhe no fim do acampamento, a os pais de todos se reuniriam, se masturbariam e ejaculariam em uma grande cumbuca. Para receber o diploma de conclusão do acampamento vocês deveriam tomar uma colher de esperma dos pais de todos.
Meio difícil de imaginar.... mas isso acontece numa tribo indigena numa ilha do pacifico.
O que eu quero mostrar com o exemplo é que as vivencias que muitas vezes a gente acha fora do comum, so o são para nós, pela falta de familiaridade com os processos.o mesmo se pode falar de praias de nudismo.
A dissociação de que a pergunta fala é perfeitamente cabível.só nos parece estranho porque fomos ensinados a fazer as coisas todas conectadas. Sexo tem que ter amor . é outra grande mentira que a gente ouve desde pequeno e nem por isso as pessoas deixam de fazer sexo só por sexo e gozam doidamente. Enfim, para o rapaz do filme, se prostituir com homens deve ser tão tranqüilo quanto os trabalhadores da limpeza da cidade que se acostumam a trabalhar nos caminhões de coleta!!!
A outra parte da pergunta é onde esta a definição de gay, bem, a primeira coisa que eu pergunto é, fora para fins didáticos uma definição serve para que mesmo? Para rotular e limitar a atuação do ser humano? Odeio definições quando se fala de vivencias. Cada um vivencia como pode e nem por isso se dizer gay ou não muda a realidade.
A Organização mundial de saúde se pegou há uns anos atrás com problemas quanto a essas questões de definição. Na hora da aplicação dos questionários os pesquisadores encontravam vários dados divergentes dos dados de contaminação por HIV por que pessoas diversas não respondiam afirmativamente a pergunta sobre ser homossexual, mas praticavam sexo homossexual, daí criarem o conceito de homens que fazem sexo com homens.
Rotulo é nome, é conceito, é categoria que visa definir algo que as vezes não é enquadravel nem definível.
2- O rapaz que vem de fora para visitar o amigo, por causa de diversas situações bizarras que o filme mostra eles dois passando, acaba se descobrindo gay. O personagem deve ter entre 25 e 30 anos de idade. Sabemos que não há idade ideal ou mais indicada pra esse tipo de descoberta, e conversamos um pouco também sobre os motivos que levam uma pessoa a passar tanto tempo negando isso pra si mesma. Só que, no filme, a transição é muito tranquila para o personagem. Como é que se processa isso na mente de uma pessoa, esse conflito? O que isso pode causar de ruim, caso não seja um processo tranquilo?
Eu não sei se ele passou um tempo negando. Queria que a gente pudesse pensar o ser humano como um VIR A SER e não alguém com um destino determinado e imutável. Quem disse que o rapaz não era hetero e satisfeito ate o momento que teve uma experiência homo? O grande problema nesse caso é ate lingüístico. Fica parecendo, quando alguém se descobre gay, que a homossexualidade sempre esteve ali, o que nem sempre é verdade. A vivencia pode ser diferenciada nos diversos momentos da vida do individuo. Há sim , casos em que a pessoa sempre teve desejos e negou a si mesma por questões de ordem social ou cultural, mas nem todos os casos se encaixam nesse esquema.
Quanto ao sofrimento ele é bem relativo.o nível de conflito pode levar a pessoa a diversos graus de sofrimento. Desde uma leve pressão a um desejo de suicídio por sentimentos de inadequação.mas temos que respeitar os processos. Por exemplo, já vi casos de pessoas que tinham muito mais saúde porque negavam a sexualidade do que se estivessem vivenciando. São pessoas que não tem uma estrutura de si mesmo consistente. Que vivem numa esfera de desejabilidade social alta e para quem, sair do armário seria muito mais doloroso do que viver uma vida dupla. Num trabalho terapêutico a pessoa vai se conhecendo aos poucos e mais aos poucos ainda se permitindo, no seu tempo e a sua vontade. Tem gente que prefere não sair disso nunca.
Não existe certo e errado sem um referencial. Nunca se esqueçam disso e nunca se esqueçam de respeitar as diferenças individuais de gosto, de desejo e de processo.
3- O filme toca também na questão dos estereótipos, e de como isso distorce a forma com que julgamos as pessoas antes de as conhecermos mais de perto. Temos o judeu ortodoxo e mão-de-vaca, temos a gorda lésbica, os negros bem-dotados, etc. Discutimos o fato de que, quando conhecemos uma pessoa nova, o quanto de expectativa colocamos por já idealizar várias coisas, e o quanto disso pode provir desse pré-julgamento por estereótipos ou por tentar categorizar as pessoas sem conhece-las direito. O que poderia ser mais explorado sobre isso?